Javali, o jipe que nasceu de um trator…

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Texto e fotos: James Garcia

O Var (Veículo para Aplicação Rural) Javali, foi projetado e construído pela CBT – Companhia Brasileira de Tratores, uma empresa de São Carlos (interior paulista) que já vinha fabricando tratores há mais de 25 anos, quando deu início ao projeto de seu jipe.
Percebendo a grande demanda no segmento rural – o mesmo que já se utilizava dos tratores e implementos agrícolas a CBT resolve fabricar o seu próprio utilitário, que viria a ser uma espécie de complemento auxiliar ao trabalho dos tratores.

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Nasce então o Javali, sob o signo da simplicidade e versatilidade. Segundo entrevista dada à revista 4×4 & Pick-Up na época do lançamento do veículo, o engenheiro Ove Schirm – responsável pelo desenvolvimento do projeto idealizado por Mário Pereira Lopes, presidente da empresa “o Javali tem como diretriz de projeto, o máximo possível de simplicidade. Procuramos sempre mantê-lo dentro dos conceitos originais de um autêntico jipe. É um utilitário de volta às origens, sem nenhuma sofisticação”.
A maior meta da CBT em relação ao Javali, era oferecer um carro de trabalho, simples e muito barato. Os cálculos do fabricante apontavam um preço similar ao de um Chevette, o carro mais barato do Brasil na época.

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Nascimento oportuno
O nascimento do Javali , em 1988 aconteceu em um momento oportuno, pois há cinco anos a Ford havia encerrado a produção do CJ-5. Com isso o Javali passou a disputar o mercado junto com o Engesa E-4 e o Toyota Bandeirante
O projeto surgiu no final de setembro de 1985, e o primeiro protótipo surge em janeiro de 1986. A partir do primeiro carro, são construídos outros dez carros, até que a CBT chegasse a finalização do modelo no final de 1988, quando o Javali foi lançado no Salão do Automóvel de São Paulo.
A impressão de quem vê pela primeira vez a carroceria do Javali, feita em chapa de aço com desenho “quadradão”, estepe pendurado na lateral e grande e fraca grade dianteira nem sempre é das melhores. Mas a idéia da CBT não era privilegiar o design e sim a funcionalidade.

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O estepe foi instalado na parte lateral, para que a porta traseira não fosse comprometida, embora esse problema pudesse ter sido resolvido também com a instalação de um suporte de estepe na porta traseira. Já o interior do jipe apresenta bom espaço para os ocupantes, melhor que a maioria dos concorrentes. A armação da capota e o Santo Antonio foram bem projetados, privilegiando o espaço interno e eliminando o barulhos das ferragens da capota, comum em qualquer jipe.
Sob a carroceria, quase todas as soluções mecânicas foram inspiradas nos antigos Willys.

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O chassi, o sistema de suspensão com eixos rígidos e molas semi-elípticas e a transmissão são idênticos aos do Willys. A suspensão traseira é do tipo progressiva, com algumas lâminas do feixe funcionando só quando o carro está carregado.
No assoalho, ficam as três alavancas, câmbio, tração e reduzida. No painel, os principais instrumentos para fora-de-estrada e asfalto. O carro vinha, de série com velocímetro, conta-giros, medidor de combustível, temperatura da água e do motor, voltímetro, pressão do óleoe do turbo, quando equipado com motor turbinado.

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Motor feito em casa
O Javali foi todo construído pela CBT ou por empresas coligadas. Até mesmo o motor. Duas versões foram testadas, uma de três cilindros e 60 cavalos e outra de quatro cilindros e 72 cavalos, ambas movidas a diesel. O mais usado foi o três cilindros, que ganhou um sistema de turbo-compressor, ainda na fase de testes.
O grande problema do motor de três cilindros é que ele vibrava muito além do ruído transmitido para dentro da cabine. A colocação do turbo, além de aumentar a potência em 25 cv diminuiu tanto a vibração quanto o ruído
A vantagem do motor CBT no fora de estrada era o alto torque em baixas rotações, apresentando 17 kgf.m a 1.500 rpm na versão de três cilindros e 24,4 kgf.m a 2.600 rpm na versão 4 cilindros.
Por trabalhar com essa relação de torque, a performance no asfalto é bastante prejudicada principalmente em ultrapassagens e aceleração
O câmbio tem quatro marchas mais a ré, bem escalonadas e até macias para um jipe.
As alavancas do câmbio e caixa de transferência, são dispostas como as do Jeep Willys e Ford, porém a da reduzida é maior do que a tração. Placas indicativas não deixam o condutor se confundir na hora do engate.

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O primeiro protótipo apresentava um vão-livre pequeno, apenas 14 cm, prejudicado pelas travessas de câmbio, muito baixas e que se tornavam um empecilho na hora de vencer obstáculos mais pesados. Isso foi melhorado, com uma recalibrada na suspensão e a adição de calços mais altos, fazendo com que o carro ficasse 10 cm mais alto em todos os seus pontos, incluíndo o vão-livre, que subiu para 24 cm.
O projeto inicial previa que o carro pesasse 1300 quilos, mas depois de montado ele acabou somando 400 kg a mais. É muit difícil fazer um utilitário diesel que não seja pesado. Por ter eixos compridos, o Javali tem boa estabilidade e apresenta bom índice de inclinação lateral.

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Com características técnicas tão similares as do Jeep Willys – um sucesso já garantido -, o Javali tinha tudo para ser um suscesso. Mas a realidade se mostrou O javali foi comercilaizado oficialmente até meados de 1992, e até 1994, na versão 4 cilindros, apenas para atender pedidos especiais e para o uso interno da CBT. A empresa nem trator fabrica mais. Fechou as portas.
Há que diga que o grande erro da CBT foi fabricar todas as peças do Javali, até os parafusos, trazendo para si altos custos com maquinário, treinamento etc.

Ficha Técnica
Modelo: CBT Javali
Motor: Dianteiro, longitudinal, três cilindros em linha com turbo ou quatro cilindros em linha simples, refrigerados à água, alimentação direta com bomba injetora CBT de sistema rotativo, a diesel.
Cilindrada : 2.940 cm3 (3 cil)/ 3.922 cm3 (4 cil)
Taxa de compressão: 16,1:1 (3 cil)/ 16,5:1(4 cil)
Potência máxima: 85 CV (DIN) a 2.800 rpm (3 cil turbo)/ 73,7 CV a 2.600 rpm (4 cil turbo)
Combustível: Diesel
Refrigeração: Água
Transmissão: Tração 4×2 com opcional para 4×4, através de caixa de transferência CBT. Câmbio: manual com quatro marchas a frente e ré.
Relação de marchas:
1º: 4,217:1
2º: 2,359:1
3º: 1,470:1
4º: 1,000:1
Ré: 4,925:1
Relação de diferencial: 3,07:1
Relação de caixa de transferência: redução de velocidade baixa: 2,165:1; e de velocidade alta de 1,00:1.
Direção: pinhão e cremalheira com amortecedor
Freios
Dianteiro: Hidráulicos a disco
Traseiro: Tambor
Suspensão dianteira e traseira: Eixos rígidos com feixes de molas semi-elípticas e amortecedores de dupla ação.
Pneus e rodas: 700 x 16 radial /750 x 16 militar
Dimensões
Comprimento: 3.495 mm
Largura: 1.807 mm
Altura: 1.840 mm
Peso em ordem de marcha: 1.650 kg
Carga útil
Estrada: 750 kg
Fora de estrada: 500 kg
Peso bruto máximo
Estrada: 2.400 kg
Fora de estrada: 2.150 kg
Entre-eixos: 2.103 mm
Bitola dianteira: 1.385 mm
Bitola traseira: 1.380 mm
Passageiros: 04
Performance:
Ângulo de entrada: 50º
Ângulo de saída: 42º
Rampa máxima: 27º (60%)
Inclinação lateral: 30%
Travessia de água: 550 mm
Vão livre: 240 mm
Tanque de combustível: 60 litros
Autonomia: 600 km
Velocidade máxima: 120 km/h

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